Meditação
“Esta busca espiritual começa pelo temor filial, como está escrito: O temor do Senhor é o começo da Sabedoria. Implica uma de recolhimento e de intimidade com o Senhor e com Nossa Senhora, e sacrifica voluntariamente a esta intimidade os prazeres do mundo” (3, 4)
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Salve Maria!
Ainda que estejamos meditando sobre o tripé da vocação à cavalaria, caberia encerrar o assunto com este ponto da Regra, ainda que, acredito eu, já tenhamos meditado sobre esse tópico anteriormente.
Da mesma forma que não podemos entender nossa Companhia como um grupo de homens que querem comprar uma estirpe nobre ou de capas esvoaçantes como, igualmente, não podemos, ou devemos, entender a Ordem como uma sequência de ordens, de pequenas regras e observâncias. Examinando a própria Moral, especialmente a partir de Santo Afonso, percebemos que ela não pode ser uma lista de “lícito” e “ilícito”. Dentro da Moral, ainda que haja uma norma global, ela deve ser aplicada na realidade dos mores, na realidade do costume e da existência humana do hoje da História. Digo o mesmo de nossa Regra, pois ela, é, com a cavalaria, “herdeira de quinze séculos de civilização cristã” (III, 9), de Bento, a Bernardo, a Luís Montfort e… A Lafond, nosso fundador!
A Regra é, antes de tudo, um plano de vida que, magistralmente, une oração e ação, tendo a primeira uma preponderância sobre a segunda. Não é à toa que, por muitas vezes, os cavaleiros eram associados a uma espécie de monges-leigos! Por isso, proponho a questão: O que é a Regra para nós? Essa confluência de mil e quinhentos anos faz sentido em nossa vida? Eu a vivo como algo vivo ou como uma obrigação? Ela permite que eu me eleve para os “Céus dos Céus de Deus” ou me arrasta a tristeza de regras sem Deus?
Não adianta termos um conhecimento profundo sobre a teoria da cavalaria, mas esquecermos de que ela é, eminentemente, prática. O cavaleiro deve conhecer a sua fé pois, claustro sine armarium sive castro sine armentarium. O claustro sem biblioteca é como um castelo sem armorial. Mas, onde está nossa ação? Onde, e de que maneira, a Regra tem me conduzido à santidade? Como tenho buscado vivê-la, de tal maneira, que ela pulse viva em meu coração? Lembrem-se que a Regra não é um “algo a mais” em nossa vida, como se essa fosse compartimentada com lista de afazeres: o tempo com a família, o tempo do trabalho, o tempo da oração e o tempo das obrigações da Ordem. Isso não é unidade de vida, na verdade, isso se chama egoísmo e mesquinhez. Faço para me livrar. Cumpro a obrigação e me debruço sobre outra. Não falta unidade de vida, apenas, falta unidade em si. Nos tornamos como arbustos agitados pelos ventos, esquecendo em mil “obrigações” o “único necessário”.
Mas, não foi a Regra quem te escolheu, mas nós que escolhemos viver sob a Regra. Esta deve ser nossa mestra e nosso farol. O livro de nossa cabeceira. A fonte onde, semanalmente, devemos beber com entusiasmo. Ela não é a Regra, mas a nossa Regra, a minha Regra de vida porque eu quis assim e jurei que assim o faria. Meus irmãos, não nos esqueçamos que, como aos religiosos, se escolhemos uma Regra, nós lhe devemos obediência. E que, de certa forma, a nossa própria salvação dependerá de como a vivemos. Sim, por não sermos religiosos, a Regra não nos obriga sobre pecado, porém, como bem colocado por dom Chautard na obra “A alma de todo apostolado”, será que não estamos deixando de cumprir a Regra com perfeição por desleixo? Ou seja, será que não a estamos fazendo por preguiça, que é imperfeição, ou que não ligamos que isso pode nos ocasionar pecados veniais? E que, estes pecados, impedindo que a graça aja livremente em nós, pode se tornar a porta para pecados graves?
Eu escolhi. Eu devo, resolutamente, lutar para vivê-la.
A primeira luta do cavaleiro não é reconquista nada, senão o solo sujo, poeirento e impuro do próprio coração. Peçamos a Maria Santíssima, nossa Suserana, com o canto composto por nosso mestre “Quando a hora derradeira soar, no suspiro final possamos clamar, Mater nostrae Militiae, audi nos, Advocata nostra, ora pro nobis“.
Termino propondo seguinte meditação, não por orgulho, mas por seriedade do assunto: há almas, e não sabemos seu número, escolhidas a qual Deus quer e aceita apenas como santas. O que temos feito para tal?
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Salve Maria.
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Michel Pagiossi
Cavaleiro de Santa Maria
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