Meditações da Regra da Militia Sanctae Mariae — Milícia de Santa Maria

Meditações da Regra da Militia Sanctae Mariae

Novena ao beato Carlo Acutis
novembro 2, 2020
Meditações da Regra da Militia Sanctae Mariae. 05/2021
maio 16, 2023

Meditações da Regra da Militia Sanctae Mariae

Meditação

“O reino dos Céus tem sido objecto de violência e os violentos apoderaram-se dele à força. Amarão, pois, a Deus com toda a violência que um tal amor exige; odiarão o demónio e o mal sem cessar de ser mansos para com os pecadores.” (III, 10)

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Salve Maria!

À primeira vista, pode parecer que as Ordens de Cavalaria carregam uma tendência à violência física. Afinal, seus membros devem estar preparados para a guerra e esta, por sua vez, é violenta. Porém, de pouco aproveita o cavaleiro que busca apenas a violência externa. Há uma violência, primeira e mais necessária, que deve ser aplicada a si mesmo.

Nossos irmãos orientais costumam dizer que o pecado original causou no homem uma ruptura. Ainda que a Teologia Ocidental prefira chamar desordem, me parece que a ruptura é uma imagem melhor em certos sentidos, especialmente aquele da unidade. Havia uma unidade original do homem querida por Deus, seja dele para consigo mesmo (em sua memória, razão e vontade) seja para com a criação como um todo. O papel da graça, e a ação dócil do ser humano para com ela, seria, antes de tudo, aquela de reparar a ruptura causada pelo pecado original. Romper, de certa forma, é destruir a unidade.

A unidade do ser humano, que deve ser nossa meta de vida, nada mais é que um reflexo da unidade do próprio Deus. Quando Ele se revela a Moises na Sarça ardente, Deus faz a mais sublime afirmativa de quem é: “Eu sou Aquele que É”. Em Deus reside a suma simplicidade, porque nele a essência e a existência são a mesma coisa, a Sua essência existe por si, Ele é o ser eternamente subsistente. Nós existimos, mas fomos chamados à vida por Aquele que eternamente é. Mesmo as inumeráveis perfeições de Deus não lhe causam multiplicidade: Deus abrange todas as perfeições da forma mais simples possível.

Sim, mas e eu? O nosso problema é a ruptura causada pelo pecado original e que se agrava com nossos pecados pessoais. Se nossa vida espiritual é fraca, é porque nos falta unidade. Há uma multiplicidade de afetos e preocupações em nossos corações, algumas muito boa e louváveis, mas que não nos aproximam de Deus, nem, muito menos, de nossa própria essência. Amamos a Deus, mas o mesmo amor desordenado vai em direção a nossos projetos e, mesmos, à alguma criatura. O amor que temos fora de Deus, de forma geral, nos causa uma satisfação. E esse amor pode ser aquilo que nos parece louvável: nosso apostolado, nosso tempo, nossa aparência, nossas certezas…

Infelizmente, vivemos de uma forma repleta de duplicidade, porque temos um amor fraco. Não é a Deus que amamos como devemos. Não aceitamos a verdade porque essa nos exige sacrifício, preferimos nossas desculpas, nossos esquemas, nossa opinião… Nos falta sinceridade e, assim, devemos fugir de todo e qualquer gênero de mentira. Se nosso pensamento é dócil ao Senhor, reto e sincero, assim serão as nossas ações. O problema todo é que podemos acabar por viver uma vida dupla: aparentando santidade, mas vivendo uma vida rota, quebrada e fraturada. Deus é único e nos quer únicos. Aqui nos fica a advertência de Nosso Senhor (Lc 11, 17): “Todo o reino dividido contra si mesmo, será desolado”.     

Quando repito insistentemente que a primeira Jerusalém que devemos conquistar é a de nosso coração, digo claramente que temos um coração dividido. Devemos possuir a unidade de vida querida por Deus: vida de oração e vida apostólica. Porém, também compreender que o verdadeiro apostolado transformador da realidade é atingido apenas na via unitiva. Deus vai nos preparando e, a partir de nossa unidade, nos conduzindo para o que Ele quer que sejamos. Um caso muito claro é o da beata Maria de Jesus de Agreda. Desde os seus dezoito anos viveu no Convento da Conceição, porém, é considerada uma evangelizadora dos indígenas americanos! Deus concedeu a ela a graça da bilocação e, assim, ela evangelizou a região do México: os convertia, evangelizava e os mandava aos freis franciscanos para se batizarem. Isso durou onze anos.

Não digo que Deus Nosso Senhor vai nos conceder o dom da bilocação para convertemos os pagãos indianos ou chineses (oxalá Ele o faça!). Mas, digo que a vida espiritual precisa transbordar e nossa vontade precisa se submeter a Deus. Se a Opus Dei fala de unidade de vida, talvez possamos dizer: “Indiviso corde”, não na questão do celibato, mas de, na vida que Deus nos deu, termos um único coração que, na violenta luta diária contra “o mundo, a carne e o diabo”, busque santificar-se para santificar o mundo. Indiviso é o oposto da fratura que nos causou o pecado original.   

Aos irmãos que se preparam para serem recebidos como escudeiros-donatos, como aqueles que já assim estão ou aos cavaleiros, é necessário a busca por essa unidade de vida que é representada, para nós, pela oblação e, ao mesmo tempo, pelo voto de conversão dos costumes. Este, por sua vez, nada mais é que o primeiro mandamento da cavalaria aplicado à nossas vidas: “O cavaleiro combate por Cristo e pelo seu Reino”. É apenas quando eu me entrego totalmente a Deus, o dom de si, que conseguirei ter uma unidade de vida que me levará a construir com uma mão e reparar com a outra. Sem uma contínua conversão, sem vida de oração, sem frequência sacramental, se pode até possuir belas obras, mas elas se esvairão mais cedo ou mais tarde, porque carecem de fundamento.

Nos confiemos, meus irmãos, a São Nuno de Santa Maria, o maior dos cavaleiros portugueses que, já monge, sabendo de certo ataque mouro, quis tudo deixar para ir lutar e, ao voltar, retornaria a sua vida monacal. Ele lutou como um cavaleiro, mas só pôde ser quem foi porque, primeiro, fez violência a si mesmo, foi um cavaleiro contra as forças demoníacas do pecado que habitavam em sua vida e, tendo o rosário em uma mão e a espada na outro, alargou, dentro e fora de si, o Reino de Cristo, Nosso Senhor.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Salve Maria.

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Michel Pagiossi Silva

Cavaleiro de Santa Maria

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Meditação de Junho de 2021

1 Comment

  1. Mateus Aparecido da Silva disse:

    Que atualidade em suas palavras! Como é triste ver o que estamos viveciando . Está é ima triste realidade “Nos falta sinceridade e, assim, devemos fugir de todo e qualquer gênero de mentira. ” tanto a falta de sinceridade com há muitas mentiras… O relacionamento com Deus acaba sendo uma mentira… não há sinceridade nas palavras no agir … tenho acompanhado sua formação seus stories o que tem me enriquecido… a escola de liturgia é uma grande escola… Quero sempre mais crescer minha fé. E tenho encontrado no seu carisma um brilho nos olhos… um amor é um cuidado pelas coisas de Deus! Muito obrigado!!! Que Deus abençoe!!!

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